domingo, 22 de novembro de 2009

O Arquipélago

Uma explicação do título do terceiro volume de "O Tempo e o Vento", nas palavras de Floriano, filho do Dr. Rodrigo Cambará, um escritor, dito alter ego do Erico Verissimo:

"Cada homem (...) é uma ilha com seu clima, sua fauna, sua flora e sua história particulares (...). Tenho a
impressão (...) de que as ilhas do arquipélago humano sentem de um modo ou de outro a nostalgia do Continente, ao qual anseiam por se unirem. (...) O que importa para cada ilha (...) é vencer a solidão, o estado de alienação, o tédio ou o medo que o isolamento lhe provoca. (...) Estou chegando à conclusão de que um dos principais objetivos do romancista é o de criar, na medida das suas possibilidades, meios de comunicação entre as ilhas do seu arquipélago... construir pontes... inventar uma linguagem, tudo isso sem se esquecer que é um artista, e não um propagantista político, um profeta religioso ou um mero amanuense."

E você, de que forma constrói suas pontes?

quarta-feira, 29 de julho de 2009

Garibaldi e a Figueira

Reza a lenda que Giuseppe Garibaldi teria passado por Santa Fé e olhado a cidade por cima e a achado muito bonita. E mais: teria dormido debaixo da Figueira e lá sonhado com a vitória dos Farrapos.
O Capitão Rodrigo Cambará, não custa lembrar, lutou, com muito orgulho, ao lado desse bravo italiano. No dia em que Santa Fé fora elevada à categoria de cidade, o padre, claramente um abolicionista e republicano, como Licurgo, neto do capitão, fizera um sermão defendendo sua causa, para delírio de Dona Bibiana, e mau grado de Bento Amaral.

sábado, 25 de julho de 2009

A FIGUEIRA

No romance O TEMPO E O VENTO existe uma personagem única, que sobrevive a várias gerações: A Figueira. Ela não chega a ser uma pessoa de carne e osso, mas é alguém, mais do que uma árvore, com braços de uma mulher, com o rosto enterrado no chão, pela visão do Capitão Rodrigo. Lá ele namorou a Bibiana, ele ia conversar com seu amigo sacerdote... Não só ele a considerava como uma amiga, uma parte da família, um refúgio e alguém para desabafar... seu neto Licurgo também. Lá ele passou a última noite antes do seu "contrato de casamento" com a teneiguá Luzia. Essa moça era birrenta, e fez questão que a efeméride ocorresse no dia em que Severino iria ser enforcado. Este era um negro com quem Curgo passara a infância brincando. Certa feita lhe pedira para pernoitar em sua casa - dia em que dois forasteiros com dinheiro haviam sido assassinados violentamente na fazenda em que ele trabalhava. No processo, o magistrado Dr. Nepomuceno o intimou para à pena capital. Por isso, apelou à amiga figueira para respirar, tentar relaxar, conversar com seu melhor amigo, horas antes do terrível desenlace. O cumprimento da pena ocorreu logo em frente ao Sobrado onde se dera a festa do contrato de casamento. Assim como o Sobrado, a Figueira é outra personagem que a tudo vê, que conheceu várias gerações e acompanhou a comédia humana que é a vida mas que muitas vezes quis tomar a feição de tragédia grega em Santa Fé, como diria o Dr. Winter.

sexta-feira, 17 de julho de 2009

O VILAREJO E O MUNDO

Há um personagem no livro O TEMPO E O VENTO, mais precisamente na segunda parte de "O Continente", chamado Dr. Winter. Ele é um imigrante alemão, tem diploma de medicina pela Universidade de Heidelberg. Usa roupas típicas de lá: chapelão, calças coloridas, botas... até que um dia elas se acabam e ele passa a se vestir como os brasileiros. Saiu de sua terra natal para fugir das lembranças de um amor: "Trude, Trude!!". Mas com o tempo, já vai se encantando por mestiças, negras... Ele toca Mozart, Bethoveen, Bach, lê poesias, e chega a pensar que aquelas músicas que ele toca nunca teriam sido ouvidas naquelas terras - e acha graça disso. E assim ele vai: já inserido na sociedade da pequena Santa Fé, se torna um narrador onisciente, em especial através de suas cartas ao seu amigo alemão, de origem nobre, imigrado para o Rio de Janeiro. Mas o mais bonito é que, apesar do Brasil ainda não ter os requintes de cidade européias, ele se dá conta, que no fim das contas, os brasileiros são movidos pelos mesmos sentimentos dos alemães, franceses, ingleses: são movidos por amores, paixões, vinganças, raiva, instintos... assim, o Dr. Winter segue no Brasil, se afeiçoando àquele lugar, onde as pequenas coisas, as histórias de cada pessoa tem um interesse enorme, pois tomam uma dimensão universal.

sábado, 11 de julho de 2009

como surge O SOBRADO em O TEMPO E O VENTO?

O interessante do livro é a narrativa que vai e volta no tempo, desde a época das missões jesuíticas no Rio Grande do Sul. Mas a gente se intriga: da onde veio o Sobrado, que aparece em capítulos intercalados na narrativa? Descobrimos, então, que ele foi construído no terreno do Pedro Terra, filho da Ana Terra. Esse terreno foi-lhe tomado pelo agiota Aguinaldo Silva. Este tem uma suposta neta, a meio doidivanas Luzia, que causa alvoroço em Santa Fé, por sua beleza e modos de mulher criada na Corte, e acaba se casando com Bolívar, filho de Bibiana e do capitão "buenas que me espalho". Entendeu? Pois então: tudo começa com Ana Terra, filho de Maneco Terra e Henriqueta, que se apaixona pelo Pedro, índio criado por um padre. Pedro é assassinado pelos irmãos de Ana. De toda essa desgraceira nasce Pedro. Mais desgraça: uns bandidos matam toda a família de Ana e esta é brutalmente violentada por todos o facínoras, e ela acaba saindo de lá com a sua cunhada e seu filho (Pedro) em direção ao povoado de Santa Fé, o qual fora construído dentro das terras dos Amarais. Pedro tem dois filhos: Juvenal e Bibiana. Bibiana cresce a imagem e semelhança de sua avó Ana Terra. Um dia chega o forasteiro Cap. Rodrigo e a vê no cemitério, visitando a lápide de sua avó. Faz de tudo pra ficar com ela, inclusive duela com Bento Amaral durante um casamento em Santa Fé. Bento ganha um P no rosto (não dá tempo para riscar a perninnha do R de Rodrigo) e, este, de forma desleal, um tiro nos pulmões. Recupera-se, depois de um bom tempo sendo cuidado pelo Juvenal, irmão de Bibiana, e se casa com ela, a contragosto do pai, Pedro Terra. Um dos filhos do casal é Bolívar, que se casa com Luzia e têm um rebento: Licurgo, principal personagem de O SOBRADO.

"O TEMPO E O VENTO"

Esta é a minha primeira postagem - e escrevendo num teclado de MAC, ou seja: "option e" só para colocar um mísero acento agudo numa vogal!
O primeiro assunto que me vem em mente é o livro que estou lendo nestes últimos tempos: "O Tempo e o Vento" do extremamente eloquente Érico Veríssimo. Últimos tempos, sim, pois são 3 tomos! Só de se falar em TOMO já assusta. De qualquer forma, temos "O Continente", "O Retrato" e "O Arquipelago". O primeiro, na mais recente edição da Companhia das Letras, tem dois volumes, o segundo, também dois, e o terceiro, para animar, três!! Enfim, é um projeto de mais de ano...
Admito que, o mais certo, é que não lerei direto todos os tomos de uma vez, por mais envolvente que seja a saga. Provavelmente, acabado "O Continente" pegarei um "livro de intervalo", como "O Leite Derramado", do Chico Buarque, que ganhei no meu niver da minha amiga Izabel.
Gaiato foi o meu pai: "vou te dar um livro de cada vez, assim você não se assusta". Beleza, quando eu tinha terminado o primeiro volume, troquei sms com o meu pai, em que a Bibiana falava mais ou menos assim: "podiam dizer o que fosse, mas o Capitão Cambará tinha voltado". Eu sei que não é bem assim, mas é por aí, pois de fato, o Cap. Rodrigo tinha voltado para se despedir de sua mulher, antes de invadir o casarão dos Amarais na Guerra dos Farrapos. Meu pai respondeu: "emocionante". Sim, e depois de uns dias, chegou um presente dele lá na minha casa em Guaíra: O CONTINENTE. E não é que a vida de Bibiana ainda merecia mais um volume?